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Comportamento

Viagem para Okinawa fez Patrícia se reconectar com seus antepassados

Professora de arte do Marco integra a terceira geração de descendentes okinawanos em sua família

Por Aletheya Alves | 08/05/2024 07:12
Patrícia em visita ao Castelo de Zakimi. (Foto: Arquivo Pessoal)
Patrícia em visita ao Castelo de Zakimi. (Foto: Arquivo Pessoal)

Professora no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande), Patrícia Nogueira Aguena viajou para o outro lado do mundo querendo se reconectar com as histórias deixadas como heranças por seus avós, a primeira geração de okinawanos em sua família que veio para Mato Grosso do Sul. Mergulhando na cultura, sua programação já garantiu desde pratos afetivos de Okinawa, visita a castelo e até passeio com sua família fazendo o caminho reverso - levando as mulheres okinawanas para comer comida brasileira no Japão pela primeira vez.

Mais do que turistar, a professora explica que um de seus objetivos é fortalecer os laços com sua família e aprofundar os estudos sobre seus antepassados, principalmente antes de Okinawa. “Esta ilha já foi um reino independente no passado, o Reino de Ryukyu. Vim também tratar de projetos culturais em reunião com o setor de divisão internacional de intercâmbio cultural da prefeitura de Okinawa”.

E, para quem fica curioso com os principais destaques da viagem, Patrícia garante que o que mais chama sua atenção são as pessoas. “São muito gentis e cordiais. Em Okinawa existe um provérbio que diz “Ichariba Chōde” que significa, “uma vez que nos encontrarmos, somos irmãos”, traduzindo bem o espírito uchinaanchu”.

Outro ponto é a culinária com sabores passados de geração em geração como os pratos “raíz” e afetivos, “Okinawa sobá, unbussá, rafute e taco rise”, exemplifica.

Soki Sobá foi um dos pratos experimentados durante a viagem. (Foto: Arquivo Pessoal)
Soki Sobá foi um dos pratos experimentados durante a viagem. (Foto: Arquivo Pessoal)

Integrando a terceira geração de descendentes de okinawanos em Campo Grande, Patrícia pesquisa justamente sobre imigração e artes da ilha japonesa. E, antes dos seus estudos atuais, sua relação com os ancestrais começou já na infância.

“Frequentei a Associação Okinawa quando era criança, na época em que meus avós, Koei Aguena e Kamado Aguena tocavam sanshin e praticavam danças clássicas okinawanas. Fiquei afastada por um longo período durante a minha adolescência, porém sempre pesquisando e estudando sobre a cultura e história de Okinawa, minha paixão”.

Para a professora, foi esse contato constante que fortaleceu seu senso de identidade, principalmente considerando que, além da descendência japonesa, também tem portugueses na família. “Tenho orgulho de dizer que sou brasileira e okinawana. Nossos povos resistiram a inúmeras dificuldades sociais e desastres naturais”.

Entrevista para a FM Koza, no Japão, sobre a Associação Okinawa de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
Entrevista para a FM Koza, no Japão, sobre a Associação Okinawa de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ainda sobre sua trajetória na associação, Patrícia relata que, em 2018, conseguiu restaurar o sanshin deixado por seu avô e essa foi a reconexão. “Uma jovem e habilidosa luthier, Sarita Shirado, única mulher da América do Sul a fabricar e restaurar sanshin, consertou o instrumento herdado por mim e, pouco antes da pandemia, iniciei meus estudos na Associação Okinawa de Campo Grande”.

As aulas eram feitas com o sansei Crystian Proença e, em 2022, ela foi convidada para compor a diretoria da associação. “A função política desse chamamento precisa ser evidenciado na sua complexidade: uma sansei, multirracial, mulher, compondo o cargo de diretoria pela primeira vez em uma das instituições mais antigas, prestigiadas e majoritariamente masculina”, explica.

Patrícia detalha que, inclusive, conversas com o presidente da associação, Marcel Arakaki Sato, e diretores culturais ajudaram para que sua viagem ocorresse, pensando em ideias e projetos.

Campo-grandense levou família japonesa para comer comida brasileira. (Foto: Arquivo Pessoal)
Campo-grandense levou família japonesa para comer comida brasileira. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Dentre algumas dessas ideias e projetos estão: a construção do Museu da Imigração Okinawana em Campo Grande, em fase de implementação. O projeto em curso e em parceria com a Biblioteca de Okinawa é o Encontrando Raízes Okinawanas em Campo Grande em que pesquisamos os processos de imigração junto às famílias que desejam saber mais informações sobre seus antepassados. Outro projeto é a fabricação de instrumentos de Okinawa como Sanbá e Fuē em parceria com o Curso de Artes Visuais da UFMS”.

A professora completa que Campo Grande é a cidade, fora de Okinawa, mais ‘okinawana’, já que cerca de 60% de seus descendentes japoneses são da ilha. “A cultura okinawana está muito marcada na nossa cidade, como o sobá, o karatê. Portanto, eu gostaria muito de poder trazer mais visibilidade e foco para a nossa comunidade e mostrar a importância dos nossos antepassados em Campo Grande; seja através de apresentações culturais, palestras ou cursos”.

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